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terça-feira, 16 de julho de 2013

O flagelo do desemprego ou porquê que o Chiado está cheio

O desemprego é um problema em portugal. Mas não é pelos motivos que estão a pensar. O desemprego é um flagelo porque as pessoas ficam sem nada para fazer. Quando ficam sem nada para fazer,  o quê que fazem? Vão às compras. O que é um problema, porque se estão desempregadas se calhar não  deviam estar a gastar dinheiro.  No entanto, se não forem às compras as pessoas ficam deprimidas, e  se ficarem deprimidas gastam dinheiro em médicos e medicamentos. Se gastam o dinheiro em médicos e medicamentos e ficam sem dinheiro para ir às compras, ficam ainda mais deprimidas e se ficam mais deprimidas gastam ainda mais dinheiro em médicos e medicamentos.  Portanto,  a vermos bem as coisas, ainda bem que o Chiado continua cheio em tempos de crise. Significa que não se gasta dinheiro em médicos e medicamentos.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

A revienga do Presidente

Não há maneira de dizer melhor, o nosso Presidente aplicou uma revienga no nosso Primeiro, aspirante a Vice-Primeiro e aspirante a aspirante a Primeiro, que os deixou com um nó nas pernas digno do mais proficiente dos marinheiros, de tal modo, que, depois disso, ninguém piou, tal foi o tamanho do anfíbio que tentava passar pelo esófago.

Quando os nossos dois Primeiros contavam com uma estratégia 1-2, ou, na pior das hipóteses, o já visto 1-1-Paulo Portas, ele vai e inventa uma coisa completamente nova que é a estratégia 1-3, deixando os jogadores e a Federação de queixo caído.

Na verdade, aquilo que se pretende é uma espécie de dream team do memorando da troika, mas eu, como boa treinadora de bancada, não posso ficar a ver sem opinar.

Na minha opinão, era aproveitar para usar as substituições e refrescar a equipa para a reta final, porque, pelos vistos, ainda temos pelo menos um ano de jogo.

Mas, como eu gosto de fazer os meus prognósticos no início do jogo, estou a ver isto a ir de uma de duas maneiras:

1 - O aspirante a aspirante a Primeiro manda-se para a piscina e grita agarrando-se ao pé, o árbitro tenta interromper o jogo, mas os responsáveis da FIFA estão de olho e ele não tem solução a não ser continuar com a equipa desfalcada, enquanto António (nome fictício) geme no chão durante os próximos 12 meses.

2 - O aspirante a aspirante a Primeiro faz descer o anfíbio com a ajuda de um pouco de pão e vinho, benze-se com a relva, dá uma palmada no traseiro dos colegas e diz «Vamos lá a isto!». Ainda sobrou um pouco de pão e vinho para ajudar a descer os outros dois anfíbios, de tamanho considerável, e a equipa ou faz um brilharete ou acaba toda expulsa por interagressão.

De qualquer modo, os portugueses continuam na retranca enquanto a sua seleção vai brincando com a bola.







quarta-feira, 10 de julho de 2013

Época alta de incêndios

Hoje está calor. Aliás, nos últimos dias tem estado muito calor. Isto não é novidade, toda a gente reparou. Se não reparou, provavelmente vive debaixo de uma pedra, sem aspas, porque deve viver literalmente debaixo de uma pedra, uma vez que deve ser dos poucos sítios onde ainda está fresco.

Há para aí uns estudos que dizem que o calor aumenta a agressividade das pessoas, e eu acredito. Aqui há uns tempos li O estrangeiro do Camus, onde a personagem principal mata um homem sob o efeito do calor intenso. Não digo que o calor me faça ter vontade de matar pessoas, mas, definitivamente, deixa-me fora de mim.

Nesta altura até tenho dificuldade em ver telejornais. Apesar de não serem propriamente catástrofes naturais, os incêndios são, para mim, a pior das consequências das condições climáticas, se bem que, em muitos casos, têm a ajuda de um dedinho muito humano.

Ao contrário dos furacões, tempestades, etc. que acabam por passar, um incêndio pode arder quase indefinidamente destruindo tudo no seu caminho: floresta, animais, casas pessoas. Felizmente, em Portugal, ainda é notícia quando um bombeiro sofre ferimentos no seu trabalho, significa que não deve ser tão frequente quanto isso.

Ninguém me perguntou, mas eu tenho que dizer. Estamos numa crise de prioridades. Como é que, a algo com um efeito tão nefasto a nível ecológico, económico e social, se pode atribuir tão poucos recursos? Como é que é possível que as pessoas que combatem os fogos tenham que o fazer mal equipados?

Quem me conhece sabe que, se há uma coisa em que acredito, é que o nível de civilização de uma sociedade se mede pela maneira como protege os mais vulneráveis: os idosos, as crianças, os deficientes. Eu incluo nesta categoria um bombeiro no momento em que luta contra um fogo, e acho que a maneira como a sociedade portuguesa tem vindo a deixar cada vez mais desprotegidos os seus cidadãos em perigo é sintomática de um decrescer do nosso nível civilizacional que tem que ser revertido, sob pena de regressarmos à Idade Média.



terça-feira, 9 de julho de 2013

Expressão idiomática do dia: meter os pés pelas mãos

Uma expressão idiomática é uma expressão que não tem significado literal, isto é, o seu significado não pode ser obtido através da soma dos significados das partes que a compõem.
Imaginemos que eu mando alguém ir «pentear macacos». Toda a gente sabe o que é «pentear», toda a gente sabe o que é «macacos», mas ninguém vai achar que eu estou a pedir ao meu interlocutor que passe um pente na melena de um primata. Se bem que isso deve ser uma coisa muito fofa de se fazer.

Qualquer bom falante do português vai perceber que eu lhe estou a dizer para ir fazer qualquer  outra coisa que não seja incomodar-me e, efetivamente, é isso que eu pretendo.

No entanto, há expressões idiomáticas cujo significado literal é uma metáfora tão boa para o seu significado idiomático, que os dois significados quase se fundem, com grande potencial para o humor.

Para mim, «meter os pés pelas mãos» é uma dessas expressões. Por exemplo, se eu disser que os nossos governantes meteram os pés pelas mãos no caso do Edward Snowden/Evo Morales, não consigo evitar vê-los a, literalmente, passarem os pés pelo meio das mãos enquanto se enrolam numa bolinha que desliza para um canto na esperança que ninguém a veja.

Dito isto, acho que as expressões idiomáticas estão subvalorizadas. São tão boas para dizer tudo em poucas palavras. E passo a exemplificar:

Um «meteu a boca no trombone» e teve que «fugir a sete pés».
Quem «atirou a primeira pedra», «sacudiu a água do capote».
Quem quis «fazer bonito», «meteu a pata na poça».
Quem foi afetado por isto «foi aos arames» e agora quem deu um «passo em falso» vai ter que «dar o corpo ao manifesto».

É o que acontece a quem «mete o nariz onde não é chamado».






segunda-feira, 8 de julho de 2013

Portugal e as festinhas na cabeça

Está na altura de dizer: Estou farta de levar festinhas na cabeça!

Não falo de festinhas literais, falo de festinhas figuradas como aquelas que nos chegam da Europa.
Não tenho filhos, mas, se tivesse, tenho a certeza que os ia tratar como a Europa nos tem tratado.

Quando nos portamos bem, passam-nos a mão na cabeça e mandam uns elogios. Quando nos portamos mal, metem-nos a um canto e mandam-nos pensar no quê que fizemos mal.

Ora, quanto a isso só tenho a dizer que Portugal e os portugueses já cá andam há muito mais tempo que a União Europeia e, bem ou mal, temos sobrevivido. Aliás, não é à toa que inventámos o conceito de «desenrascanço» e ele deve servir para qualquer coisa além de usar cintos como correias de distribuição e de fazer puxadas de corrente elétrica.

Eles já deviam ter percebido que (como alguém já disse) um país que começou com um homem a bater na mãe não se deixa ficar e, como se diz no futebol, até comemos a relva, se for preciso.

Bom, bom, seria se os nossos governantes incorporassem esse espírito, aí, sim, poder-se-ia dizer que, efetivamente, nos representam. Até lá, vai mais uma festinha na cabeça.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

E a solução é: transformar a Assembleia da República numa esplanada

Ontem, como jovem cosmopolita que sou, participei naquele ritual dos jovens cosmopolitas que consiste em, depois de um dia de trabalho, sentar numa esplanada a beber cervejas com os amigos.

Durante as aproximadamente três horas que lá estivemos, discutimos o futuro do País. Porque o jovem cosmopolita é assim como o Nuno Rogeiro, sabe comentar tudo e mais alguma coisa. Escusado será dizer que, dado o clima político no nosso retângulo de terra, grande parte da conversa foi dedicada a fazer uma análise informada e aprofundada do dito cujo imbróglio em que nos encontramos.

E a verdade é que, depois de duas horas de analogias rebuscadas, metáforas despropositadas, comparações inesperadas e jogos de provérbios, tcharam!, não chegámos a conclusão nenhuma. Ou melhor, chegámos à conclusão de que não há solução, pelo menos enquanto as ideologias precisarem de pessoas para as pôr em prática. A minha sugestão seria substituir tudo quanto é político por máquinas de calcular, mas não me pareceu que alguém acolhesse bem a ideia. Muito menos quando quis pôr o Ursinho Misha como Presidente. Ao menos é fofo.

Mas então, se não resolvemos o problema, porquê que quero transformar a Assembleia da República numa esplanada? É fácil. A esplanada é democrática. Na esplanada ouve-se e fala-se com respeito, aceita-se as opiniões dos outros de mente aberta e tenta-se extrair o melhor de cada uma. Na esplanada coopera-se e, à vez, cada um pede cervejas para todos. E o melhor de tudo: a esplanada é de acesso livre e chegue quem chegar, há sempre lugar na conversa para mais um.

Portanto: Transforme-se a Assembleia da República numa esplanada!

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Neymar e as crianças

As estatísticas são muito interessantes. E há estatísticas para tudo. Saber valores estatísticos para acontecimentos estranhos é a melhor maneira de pôr a vida em perspetiva. Por exemplo, quando fico a saber que, anualmente, morrem em média 100 pessoas asfixiadas por engasgamento com esferográficas, isto diz muito sobre a Humanidade. As estatísticas bem feitas dizem muito sobre os tempos que se vivem e elas têm que ser vistas no seu contexto. Descontextualizar é batota. Ninguém me garante que as 100 pessoas que morreram asfixiadas com esferográficas não morreram todas asfixiadas com a mesma esferográfica que era assim a versão economato do Chuckie.

 De qualquer modo, aquilo de queria falar era do Neymar e das crianças. Parece que, na Bolívia, 10 em cada duas crianças que são registadas atualmente ficam com o nome «Neymar». Também parece que, aqui há uns tempos, os nomes preferidos eram «Cristiano» e «Messi».

Cá em Portugal não se pode fazer isto. A menos que uma criança tenha um pai estrangeiro, o seu nome tem que se cingir à Lista Onomástica Portuguesa, ou então tem que se fazer um requerimento a pedir com muito jeitinho.

Acho mal. Cá em Portugal eu posso chamar Arsénio ou Hélio ao meu filho, e não lhe posso chamar Néon ou Butano. Eu queria chamar-lhe Butano. Para não ser assaltado na escola.

Para alguém que se interessa por estas coisas, isto é extremamente inconveniente. Assim como os topónimos (nomes de localidades) e gentílicos (nomes que designam pessoas de acordo com as suas localidades), alguns antropónimos (nomes de pessoas) guardam registos da História. Não vai ser bom quando, daqui a 40 anos, ninguém se lembrar do Neymar jogador, e estes Neymarzinhos, tornados Neymarzões puderem contar aos seu filhos daquele grande jogador que os batizou?



quarta-feira, 3 de julho de 2013

Juros a subirem e Evo Morales sem descer

Agora é que fizeram bonito. Como se não bastasse um governo em debandada, ainda temos a Bolívia a cair-nos em cima porque alguém assumiu (e, como diz alguém que conheço, «assumption is the mother of all fuck ups») que vinha a bordo do avião do Presidente colombiano esse grande criminoso internacional, Edward Snowden.

Cá para mim, há aqui um grande equívoco, nunca se viu um criminoso com cara de copinho de leite e que usasse óculos. Só isso devia ser suficiente para fazer o Governo Português querer pegá-lo ao colo em vez de o mandar à sua vida.

E esta observação dos óculos tem fundamentos. Os criminosos não usam óculos porque atrapalham na hora de cometer os crimes. Os óculos partem-se, caem, embaciam-se e sujam-se quando tentamos matar pessoas e fugir e assim.

O único tipo de criminoso que pode usar óculos é o chamado de «colarinho branco». Esses não precisam de se preocupar, nunca precisam de sujar as mãos e nunca se viu um que tivesse que correr, sem ser por desporto.

Ainda assim, não discordo da possibilidade de ter que rever a minha teoria. É que ela não considera esse novo crime que é falar, ou melhor, falar a verdade e, sendo assim, ponham-se a pau os copinhos de leite. É melhor tirarem os óculos, porque, provavelmente, vão ter que correr.

terça-feira, 2 de julho de 2013

O Acordo Ortográfico e a essência das coisas

A partir de hoje passo a escrever segundo o Novo Acordo Ortográfico. E porquê? Porque, ao contrário do que se diz por aí, é fácil. Não vai destruir a minha vida, não vai mudar quem sou e, principalmente, não vai fazer-me «falar como os brasileiros».

Eu percebo o apego das pessoas àquilo que consideram os símbolos do seu país, mas, sinceramente, Portugal tem uma taxa de analfabetismo superior a 5%, segundo os últimos Censos e, estar a lutar contra o Acordo Ortográfico quando meio milhão de pessoas ainda nem sabe escrever só me faz pensar em querer que toda a gente coma brioches quando a maioria ainda não tem pão. Não me interpretem mal, sou uma defensora acérrima das diferenças de opinião, acredito que é a oposição entre opiniões que faz avançar o Mundo, mas gostava que toda a gente pudesse ter as ferramentas para exprimir as suas.

Não quero defender nem atacar o Acordo, e, mesmo que quisesse, não o conseguiria fazer. A escrita, para mim, configura-se simultaneamente como o meu objeto de estudo e ferramenta, e imagino que eu olhe para a ortografia como um ginecologista olha para os genitais femininos: não há mística, é um sistema com uma função, formado por partes, pode apresentar ligeiras variações, mas de resto, é tudo muito sartriano; as coisas são o que são e por detrás delas não há nada.

O que se passa com o Acordo é que as pessoas têm tendência a romantizar. Aqui há uns tempos vi um documentário sobre a essência das coisas. Nesse documentário, um investigador tentava perceber a tendência das pessoas para atribuírem uma «essência» a objetos inanimados. Apresentava aos sujeitos uma caneta que dizia ter sido, por exemplo, do Hemingway (estou a inventar, não me recordo das pessoas que ele usou), e as pessoas pegavam-lhe, olhavam-na, mexiam-lhe. Depois apresentou uma camisola que dizia ter sido do Ted Bundy. As pessoas pagavam-lhe com a ponta dos dedos como quem mexe em alguma coisa que fede e passavam-na o mais rápido possível ao outro.

Acho que isto acontece com a ortografia, as pessoas que se sentem muito apegadas a ela não conseguem evitar sentir a sua essência, a forma como transporta a História e a aura dos grandes escritores. Não vou dizer que essa carga me é completamente indiferente, mas penso assim: quanto mais longe a forma como escrevo está de como se escreveu, mais fascinante é. Quem é que ia ler as crónicas do Fernão Lopes, se não fosse pelo vislumbre de um tempo distante?
A evolução e a mudança fazem a História. E há alguma coisa melhor do que isso?



sexta-feira, 28 de junho de 2013

A posta de pescada ou a arte de se fingir que se sabe de tudo

Como já tinha dito, sou linguista, quer dizer, sou formada em Linguística, e, ao contrário do que muitas pessoas pensam, isso não significa que sei muitas línguas. Aquilo que sei, e o que me fascina, é a maneira como as pessoas aprendem uma língua e, principalmente, como a usam, como a modelam para servir os seus propósitos, como são ambíguas e específicas, como usam os diferentes registos, como reflete a maneira como vêem o Mundo.

Hoje venho falar sobre esse importante conceito discursivo que é a «posta de pescada» que muito me tem interessado ultimamente, não só porque elas têm andado a voar por aí, mas também porque são um óptimo exemplo dos aspectos de que falei.

Eu tenho um grande defeito, sou daquelas pessoas que quer saber sobre tudo, e depois não sabe sobre nada. Num minuto estou determinada a fazer tudo e mais alguma coisa, e no outro, já não quero saber.

Ao longo do tempo já estudei carros, aviões, futebol, computadores, electricidade, armas, filosofia, treino desportivo, história, ciência política, economia, russo, alemão, e a lista podia continuar, mas, como já disse, farto-me rápido.

E alguém diz: «Epá, impressionante.»
E eu respondo: «Neh, nem por isso.»

A única coisa para que isto serviu foi para gastar dinheiro e, para, de vez em quando, mandar umas postas de pescada que impressionam quem não me conhece. É uma arte que eu domino, mandar postas de pescada, se houvesse uma licenciatura para isso, eu já a tinha (por equivalências, claro).

Fingir que se sabe de uma coisa que não se sabe, é uma arte. Se se for ao pote com muita sede, não só corremos o risco de ser apanhados como corremos o risco de toda a gente perceber que nos estamos a armar em espertos. Debitar informação da Wikipédia toda a gente sabe, o que muita gente não domina é a arte de seleccionar a informação e de a guardar para o momento correcto.

Aqui vai então o meu

Manual rápido para fingir que se sabe de tudo, quando não se sabe de nada 

1. Recolher e seleccionar a informação

Hoje em dia temos tanta informação ao nosso dispor que se torna difícil impressionar alguém. Para o propósito, informação superficial não interessa. 

Interessam coisas do tipo:
- Jargão de comunidades mais ou menos exclusivas
- Detalhes da mecânica de vários tipos de máquinas
- Marcas e modelos de vários tipos de máquinas
- Factos insignificantes que tenham ocorrido, pelo menos, vinte anos de nascermos (guerras e acontecimentos históricos não contam, saber quando o Homem chegou à Lua não tem piada)
- Premonições (este é o melhor tipo, consiste em fazer previsões para o futuro que parecem ser baseadas num estudo extensivo das variáveis, mas que, na verdade, se leu no Guia Astrológico para 2013)

2. Apresentar essa informação

É aqui que se pode ver o nosso conhecimento linguístico e interaccional a funcionar em toda a sua grandeza.
Na análise da conversação, a maneira como a vez passa de um falante para o outro chama-se «gestão de turnos» (do inglês turn management). Quando uma pessoa está numa conversa manda ao seu interlocutor sinais de que quer a vez para falar, como, por exemplo, endireitar o tronco e chegar-se para a frente, uma respiração profunda, etc. Isto é tudo aquilo que vocês não querem, é entrar na conversa delicadamente. Se o fizerem, provavelmente as pessoas vão parar para vos ouvir falar e é quase certo que BUSTED! 
Pelo contrário, devem ser o mais abruptos possível de modo a marcarem presença, mas não captarem a atenção, entrando assim, de certo modo, no inconsciente dos vossos sujeitos.

A posta de pescada configura-se assim como espécie de «toca e foge» conversacional, uma manobra arriscada que não aconselho a tentar sem a ajuda de profissionais.










quinta-feira, 27 de junho de 2013

«Se faço greve e ninguém vê, então fiz greve?» ou o trabalho precário

Hoje estou em greve. Não, não estou, a greve é um luxo só de alguns. Não tenho contrato, não tenho horário, e trabalho num escritório escondida atrás de uma secretária. Ninguém me vê.

Pior, hoje nem os meus colegas me vêem. Não estão cá, não tinham como cá chegar. Até podia fazer greve, mas para quê? Ninguém ia saber.

E pode-se pensar: «Ooohhh, queixas-te de barriga cheia, não tens horário, chegas e sais à hora que quiseres!»

Sim, é bom, mas quem o diz claramente não pensa nas implicações disto. Não tenho contrato, logo não tenho vínculo laboral, logo, não tenho direitos. E ao contrário do que parece, continuo a ter obrigações, não tenho obrigação de chegar às 9h mas tenho obrigação de apresentar o meu trabalho feito quando mo pedem.

Trabalho, mas não tenho emprego; aprendo e evoluo, mas não tenho uma carreira; fico doente mas não tenho protecção; trabalhei no passado, trabalho no presente, mas não posso pensar no futuro.

Quem sou eu?
Sou o infame bolseiro de investigação.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

A cama da família real

Há uns tempos atrás, enquanto me preparava para o trabalho de manhã, costumava ouvir rádio. Gostava dos programas da manhã e sempre me ria um bocado.

Entretanto, descobri que a televisão também tem uns programas bons de comédia, acho que lhes chamam telejornais.

É um tipo de comédia muito especial, eu chamar-lhe-ia «comédia do imprevisto», porque, o que eles fazem é: passam uma reportagem sobre, por exemplo, o ex-consultor da CIA que anda a ser perseguido por ter vindo confirmar os maiores medos dos fãs das teorias da conspiração e que, inteligentemente, terá ido abrigar-se na Rússia (eu também o faria, não acho que alguém tenha coragem de se meter com o Putin, até porque 90 % dos filmes do Schwarzeneger se inspiraram nele. Sei de fonte segura.), e passado um bocado, pimba!, espetam com uma reportagem sobre a cama de 130 mil euros da família real com molas feitas à mão e enchimento de cabelo de cavalo.

Talvez eu esteja a ser um bocado injusta, porque, na verdade, imagine-se: vejo o telejornal, saio de casa e assim já saio com um desbloqueador de conversa preparado. Assim que alguém me mandar com a conversa do tempo, eu atiro-lhe (não literalmente, pois parece que a dita cuja é pesada) com a cama da família real, agarrando assim a oportunidade para brilhar.

De qualquer modo, molas feitas à mão e enchimento de cabelo de cavalo não é seja assim tão espectacular. Espectacular seria se as molas fossem feitas à mão por um cavalo cabeludo. Aí sim, sai da frente família real que essa cama é minha, nem que tenha que comer flocos de aveia até ao fim dos meus dias.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Atendimento ao público ou «Desculpe, não me está a ver aqui?»

Há sete anos que deixei de atender ao público, no entanto, ainda hoje guardo as importantes aprendizagens que isso me trouxe e acredito piamente que, se toda a gente estivesse pelo menos um ano atrás de um balcão, o mundo seria um lugar melhor.

Ao contrário do que diz aquela citação (que não me atrevo a atribuir a ninguém porque agora ainda aí uma grande confusão sobre quem disse o quê e isso seria tema para outro post), para mim o carácter não é aquilo que se faz quando ninguém está a olhar, para mim, aquilo que melhor revela o carácter de alguém é a maneira como interage com os desconhecidos nas situações do dia-a-dia, sendo a interacção mediada por um balcão (de qualquer tipo) o melhor exemplo.

Ser cliente, toda a gente sabe ser, mas ser bom cliente, nem por isso. Modéstia à parte, considero-me boa cliente. Já me encontrei do outro lado do balcão e falo com os outros como gostava que falassem comigo, no entanto, isso também me torna mais exigente e atenta à maneira como sou atendida e Computer says no não me satisfaz.

Não vale chutar para canto, (e aqui saco da cartola as aulas de semântica que os professores pensavam que eu não ouvia) uma conversação exige cooperação, portanto, dos dois lados do balcão há regras a seguir.

Posto isto, aqui vai o meu top dos do's and dont's do atendimento ao público (para profissionais):

1. Bom dia e um sorriso discreto na cara fica sempre bem. Os clientes não têm culpa se a Emel vos multou, o vosso patrão é um idiota ou vocês são mal pagos.

1.1 Eu sei que é difícil, mas, se os 10 clientes anteriores eram idiotas, não significa que o próximo seja. Pensem assim, num dia de trabalho surge sempre um cliente de quem se gosta, pode sempre ser o próximo. Se começarem logo mal, podem perder a oportunidade.

2. Esta é indiscutível. A menos que o vosso telefone seja uma extensão do 112, quem está à vossa frente tem sempre prioridade em relação a quem está ao telefone. Se havia uma opção de telefonar e as pessoas preferiram ir presencialmente, há que fazê-las sentir que têm alguma vantagem na deslocação.

3. A roupa que a vossa colega vai levar ao casamento da amiga é claramente uma assunto interessante e premente, no entanto, seria muito simpático interromper a conversa para olhar para o vosso cliente. Não sei, pode dar-se o caso de ele ter as sobrancelhas em fogo e era bom que vocês o pudessem avisar.

4. A vossa colega (não é a da roupa para o casamento, a outra) gosta de «fazer vento» (fazer vento significa andar ocupada em tarefas insignificantes, como mexer papéis de um lado para o outro) e o trabalho a sério fica todo para vocês. É chato, confirmo, mas os clientes não têm culpa nem têm que saber isso. A roupa suja lava-se em privado.

5. Usar o obrigada/o, se faz favor, com licença, etc., não são essenciais para a tarefa mas deixam o cliente mais bem disposto e com mais vontade de colaborar convosco.

6. Lá porque têm uma dúvida ou um problema, os vossos clientes não são burros. Se vocês sabem bem o que é um requerimento XPTO e como se faz, os clientes não têm que saber, é para isso que vocês lá estão, de outro modo podiam ser substituídos por um fax.

E o meu top dos do's and dont's do atendimento ao público (para clientes):

1. O mesmo que para os profissionais.

1.1 Quando chegam a qualquer sítio, lembrem-se que, para vocês, aquilo é uma situação única, enquanto que, para a pessoa atrás do balcão, já vieram muitos antes de vocês. Provavelmente alguns insultaram-na, à mãe, ao pai e ao cão. Dêem sempre o benefício da dúvida.

2. Tal como outros vieram antes de vós, outros virão a seguir. Aquela pessoa não está ali para discutir o sentido da vida, e o tempo dela é precioso. Sejam sucintos, claros e organizados.

3. Esta é mesmo muito importante. Estar atrás de um balcão não é sinónimo de ignorância. Pelo contrário, aprende-se muito sobre pessoas, portanto, mentir e fazer-se de desentendido é meio caminho andado para se ser apanhado e receber hostilidade de volta. A melhor maneira de se receber compreensão para um problema é explicá-lo de modo claro e, em alguns casos, um mea culpa também ajuda.

4.  Quanto tudo o resto falha, a tendência é para recorrer à agressão (não física, claro). Aviso já que não vale a pena. Na maior parte dos casos, a pessoa que vos está a atender não vos conseguia ajudar nem que disso dependesse a vida dela. É assim que as empresas grandes se protegem, colocam uma barreira tal entre quem atende o público e quem pode decidir que, na verdade, vocês estão apenas perante carne para canhão e, por muito que estrebuchem, não vão a lado nenhum. Provavelmente, a pessoa que está perante vós percebe isso muito bem, portanto, em vez de a agredirem, façam dela vosso aliado. Ela também está morta por passar o problema a outro. Perguntem-lhe que departamento ou quem podem contactar. Assegurem-lhe que não vão referir o nome dela nesse contacto e, a menos que tenham queixas dela, não o façam.

Como isto já vai longo, fico por aqui. Boas interacções.



segunda-feira, 24 de junho de 2013

A máquina de café e as redes sociais

Antes de tudo, tenho que deixar uma coisa bem clara: apesar de ser uma rapariga jovem (acabadinha de entrar nos trintas e, segundo se diz por aí, os trinta são os novos vinte), quando eu nasci, nem toda a gente tinha televisão a cores.

Tenho que admitir que tenho um smartphone, tenho uma televisão LED com uma entrada USB onde vejo filmes em  MPEG-4 e ouço músicas em MP3, e consigo construir uma frase com sentido usando muitas siglas de seguida.

Ninguém me vai apanhar a falar mal da quantidade de tecnologia que nos rodeia, embora eu goste de ser selectiva naquela que uso e como a uso.

A única coisa que eu acho que nunca devia ter sido inventada é a máquina de café expresso doméstica e vou já de seguida explicar porquê.

Para mim, tal como o vídeo matou as estrelas da rádio, a máquina de café doméstica matou as verdadeiras redes sociais.

Não me levem a mal, eu tenho conta no Facebook, no LinkedIn, e no Google+, mas isto são só emuladores das então existentes redes, que, apesar de em risco de extinção, ainda podem ser encontradas nas planícies abrasadoras do Alentejo, por exemplo.  Se não acreditam em mim, podem ir lá ver, mas não façam barulho para não perturbarem o ambiente.

Na verdade, como a maioria dos portugueses, também tenho uma máquina de café em casa que, exceptuando o cafeinómano com quem vivo, praticamente não é usada. E porquê? Fica mais barato, a qualidade do café é muito semelhante ao da rua e até tenho umas chávenas da Delta obtidas de modo menos lícito que completam a experiência.

Não uso porque também eu sou viciada, mas nas verdadeiras redes sociais. Aliás, arrisco-me a dizer que eu é que devia processar o Mark Zuckerberg, porque tenho a certeza que ele tirou a ideia do Facebook do café onde eu vou.

Senão vejamos:

- Chego ao café do costume, digo bom dia ao Sr. X (por acaso até lhe sei o nome, mas não vou dizer) - Login

- Ele pergunta-me como estou. - What's on your mind?

- Eu respondo  - Post 

- Pergunto se a minha companhia do costume já lá esteve, e ele, não só me responde, como me diz o que lhe passava pela cabeça naquele momento. - Recent Activity

- Diz também que Y perguntou por mim. - Check Inbox

- Sento-me, bebo o café que não precisei de pedir, vou observando as conversas em volta... - Live feed

- ...intervindo se justificável. - Like/comment

- Acabo o café, digo bom dia e saio - Logout.


sexta-feira, 21 de junho de 2013

Informática e Humanidades e Algoritmos para totós

Aqui há uns tempos estava num jantar com um grupo de amigos. A maior parte dos meus amigos mais recentes são de Informática ou de Humanidades, nomeadamente linguistas, por ser essa a minha formação, mas também pessoas de Línguas e Literaturas. Os informáticos vêm do meu passado de frequentadora (pouco assídua) da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e do facto de o meu namorado ser, também ele, informático.

No meio de fragmentos frásicos dispersos, ouvi alguém dizer qualquer coisa como: «É por isso que a maioria das namoradas de informáticos são de Psicologia ou de Humanidades, só elas é que os aguentam!».

Alguém disse que o maior dom é saber explicar conceitos complexos através de palavras simples, e até hoje, não sei exactamente quem lançou esta pérola de sabedoria no meio da confusão, mas é, definitivamente, um génio.

Acabei por verificar que assim é, a maioria (ou, pelo menos, muitos) dos informáticos têm namoradas da área das Humanidades. E, como boa investigadora que sou, lancei um estudo aprofundado do tema. Venho, deste modo, apresentar as minhas conclusões.

Um dos conceitos básicos da informática é o conceito de algoritmo, um algoritmo é um procedimento automático para uma determinada tarefa.

Imaginemos que tínhamos a pessoa mais idiota do planeta e queríamos que ela nos fizesse, qualquer coisa. Só porque sim, recorrerei à culinária. Imaginemos que queríamos uma gemada e não nos queríamos levantar do sofá porque estava a dar o Say Yes to the Dress e, neste mundo, não existia o restart TV nem o botão de Pause.

O único recurso ao nosso dispor é, sei lá, o namorado. Mas ele nunca fez uma gemada, e normalmente, não funciona bem deixá-lo sozinho na cozinha, portanto, vamos dar-lhe uma série de instruções a seguir, de modo a obtermos o resultado que queremos, e só aquilo que queremos, sem danos colaterais.

Escrevemos num papel:
1 - Tira um ovo do frigorífico
2 - Tira uma chávena do armário
3 - Bate com o ovo na esquina do lava-louças
4 - Deita a gema na chávena
5 - Deita o resto no lixo 
6 - Tira o acúçar branco do armário
7 - Coloca duas colheres de açúcar na mesma chávena da gema
8 - Tira uma colher da gaveta
9 - Mexe vigorosamente a gemada
10 - Pára de mexer quando ficar cremosa

Este algoritmo não está perfeito, nomeadamente, não lhe disse que a colher tinha que ser de sobremesa e não lhe expliquei o que é uma colher de sobremesa, mas, para o efeito, funciona.

À partida, seguindo este procedimento, o vosso namorado voltaria com a gemada que tanto vos apetecia, e vocês não teriam um ataque histérico quando entrassem na cozinha.

Agora, imaginem que não havia açúcar branco. De acordo com este algoritmo, vocês nunca iriam ter uma gemada e, muito possivelmente, o vosso namorado nunca voltaria da cozinha.

Como ele nunca voltava e até já tinha acabado o Say Yes to the Dress,  vocês levantavam-se e iam à cozinha para encontrar o vosso mais que tudo encolhido e a balançar-se para a frente e para trás agarrado ao papel.

O que fariam ao vê-lo naquela aflição? Eu diria: «Não faz mal, usa o açúcar castanho...»

E é isto, a minha teoria consiste apenas nisto. Os informáticos estão tão habituados a viver num mundo de algoritmos, que às vezes precisam que alguém lhes diga para usar o outro açúcar e, para isso, têm as suas raparigas das Humanidades.









 



quinta-feira, 20 de junho de 2013

A prenda ideal para a namorada

Ainda me lembro de ser uma miúda e comprar tudo o que era revista de adolescente, a começar pela falecida e ressuscitada Ragazza, passando pela Bravo alemã e terminando na tuguíssima Teenager, de onde extraí um póster em tamanho real da então jovem promessa do futebol Dani, que ficou afixado na parede do meu quarto durante muito mais tempo do que tenho coragem de admitir, de modo que o dito cujo rapaz, outrora belo, já chegava a apresentar um tom amarelado, muito pouco comum num jovem daquela idade.

Estava-se a meio dos anos 90, o You oughta know da Alanis Morissete passava na rádio, a Chechénia estava em guerra e o Kim Jong-Il tinha acabado de tomar conta da Coreia do Norte, mas, para mim, tudo estava bem desde que tivesse pósters e autocolantes dos Bon Jovi e, vá lá, dos REM para decorar as paredes do quarto e os cadernos da escola.

Às vezes penso no quê que andariam os meus pais a fazer, que não repararam que, a certa altura, através da Ragazza, me chegaram às mãos dois livros dessa instituição que é a Harlequin, em particular um da série Bianca e outro da Sabrina, completamente impróprios para a minha idade.

Anos mais tarde, não sei como, chegou-me às mãos o livro de D.H. Lawrence, O amante de Lady Chatterley. Foi daqueles livros que comecei a ler e só parei no fim.

E neste momento, já estão os leitores (todos os três) a dizer: «O quê? Não vais comparar o D.H. Lawrence com os livros da Harlequin, pois não?»

E eu respondo: «Vou, sim senhor!»

A verdade é que não pude evitar, quando li O Amante de Lady Chatterley, associá-lo aos livros da Harlequin.

A diferença é que enquanto não faço a mínima ideia do que aconteceu aos livros da Harlequin, guardo religiosamente a minha cópia do Amante; enquanto não faço a mínima ideia do quê que eles falavam, do Amante, sei a história e os nomes das personagens, sei descrever os ambientes e paisagens e consigo vê-los na minha cabeça; enquanto nunca mais quis ter nada a ver com os livros da Harlequin, fui comprar e ler mais D.H. Lawrence.

Para me explicar melhor, recorrerei a uma analogia: imaginemos que havia um filme porno chamado Limpo-te os canos, imaginemos que havia outro chamado Amor nos campos verdejantes; parece-me que os títulos são elucidativos da diferença.

Para finalizar, e porquê que chamei a este post «A prenda ideal para a namorada»?
Porque, para mim, a melhor prenda para uma namorada deve vir sempre carregada de paixão, mas paixão de qualidade. E é isso que este livro é. Para mim, sem dúvida, das grandes obras da literatura, suficientemente mental, suficientemente físico e maravilhosamente escrito.
Props to you Mr. Lawrence!




quarta-feira, 19 de junho de 2013

Vegetarianismo 2 - Vencer os argumentos contra

A primeira coisa que muitas pessoas me dizem quando digo que sou vegetariana em transição é: «Ah, gostava tanto, mas é difícil...».
Geralmente, segue-se a esta introdução a justificação de tal dificuldade. É neste momento que eu, se para aí estiver virada, vou começar a dar uma de esperta e a deitar abaixo os argumentos até que, eventualmente, o meu interlocutor me despacha com um envergonhado: «Pois...» e muda de assunto antes que eu tenha tempo de articular mais alguma coisa.

Dito isto, normalmente, esses argumentos para não se aderir ao vegetarianismo são os seguintes:

1. É difícil
2. É caro
3. Não sei por onde começar
4. O meu/minha namorado/namorada/marido/mulher não quer e depois é difícil fazer duas comidas

Começando pelo primeiro, na verdade o mais difícil de rebater, uma vez que é não é exactamente um argumento, mas mais um problema filosófico, o que faço é mergulhar no canto escuro do meu cérebro onde, surpreendentemente, pareço ter armazenado alguma da filosofia que dei no secundário e respondo aplicando na perfeição o Princípio do Terceiro Excluído, produzindo um curto «Não é nada!» E a verdade é que não é. Inclui uma mudança de hábitos e alguma organização, pelo menos, inicialmente, mas depende da maneira como se faz. Para alguns é mais fácil mergulhar de cabeça, para outros, como eu, a transição gradual é mais simples, mas do «por onde começar» falarei mais adiante.

Quanto a ser caro, efectivamente, no começo é. São necessários uma série de produtos que quem come carne ou peixe normalmente não tem na sua despensa e muitos são importados ficando à partida mais caros. Mas dou um exemplo: uma embalagem de 500 g de quinoa (must have da alimentação vegetariana) custa aproximadamente 4 euros e dá para 8 a 10 doses, ficando cada uma entre 40 a 50 cêntimos. Sim, é mais do que uma embalagem de arroz, mas muito mais nutritiva (tem o dobro das proteínas e muita fibra).

Quanto a não saber por onde começar, sim, é confuso começar, porque tal como disse, é uma mudança de hábitos, mudar hábitos gera sempre alguma ansiedade. No entanto, às vezes é bom ver a smaller picture em vez da bigger picture. Quando andava na faculdade tive uma cadeira sobre gestão e inovação. Lá fizemos estudos de casos de sucesso, de decisões de gestão que podiam fazer a diferença. Um dos que me recordo perfeitamente foi o de uma empresa de aviação que poupou milhares de dólares ao retirar uma azeitona de cada salada que servia, o que é extremamente interessante mas que eu podia saber há mais tempo se tomasse atenção ao que os meus pais me diziam. Eles sempre me ensinaram que devagar se vai longe; todas as viagens começam começam com um passo; grão a grão enche a galinha o papo, etc., etc.
Não estou a fugir do tema, para mim funcionou simplesmente começar a substituir refeições.
Procurei receitas de pequenos-almoços, encontrei um que funcionava e mantive-me com ele, variando de vez em quando. Quando já me sentia confortável, comecei a procurar receitas de refeições e ia experimentando para ver o que funcionava. E assim por diante. Até a comida vegetariana se tornar rotineira.

 Quanto à última razão. Ok, eu percebo. O meu namorado adora carne e torce o nariz à comida vegetariana, então há três maneiras de resolver:
a) enganá-lo;
b) distraí-lo;
c) fazer-lhe a vontade.

Para ser sincera, c) é mesmo a mais difícil, mas as duas primeiras funcionam bem. A) não é tão má como parece. Consiste em usar produtos que simulem a consistência da carne. Cogumelos frescos, tofu ou seitã cumprem perfeitamente o papel. B) implica jogo de cintura, mas, se em casa quem cozinha é o vegetariano, podem safar-se com esta durante muito tempo até que a outra pessoa perceba o que está a acontecer. Num dia uma sopa, noutro dia uns rolinhos de legumes com vegetais e uma salada nutritiva, e quando ele/ela der por isso, não consome carne há duas semanas. Quando nenhuma destas funcionar, aplicar C). Muitas vezes é possível criar um prato com uma base comum e fazer algumas substituições que assegurem que toda a gente fica contente.

Muito importante: Não aconselho ninguém a embarcar numa dieta totalmente vegetariana sem se aconselhar com um médico. Não sou médica, claramente, portanto abstenho-me de fazer comentários nesse domínio.



  

Vegetarianismo

No que diz respeito ao vegetarianismo, tenho que ser honesta. Não sou ainda vegetariana, mas estou a fazer os possíveis para reduzir ao máximo o consumo de carne e peixe. Eu sou assim, acho que quem se compromete demasiado com princípios, mais cedo ou mais tarde é apanhado em contradição. Antes que alguém me apanhe com as minhas botas de pele e me aponte o óbvio, prefiro avisar que estou só a tentar.

De qualquer modo, há mais de seis meses que não se cozinha carne em minha casa, e devo dizer que estou bastante contente com tal. Mexer em carne crua nunca foi a minha actividade favorita e estou feliz por já não ter que o fazer.

No meu modo de ver, existem três grandes razões para aderir ao vegetarianismo:

1. Ética (não contribuir para a criação - abstenho-me de comentar as condições em que é feita - em massa de animais para abate).
2. Saúde a) (o meu pai tem quase 60 anos, só é vegetariano há dois anos e quando faz análises obtém resultados que fariam inveja à maior parte dos rapazes na casa dos 30. E fuma.).
3. Saúde b) (com todos os escândalos associados a fraudes com produtos alimentares, e, não estando os produtos vegetarianos isentos desses problemas, é mais fácil controlar aquilo que se consome, na verdade, se me venderem um pepino e disserem que é curgete, eu vou desconfiar).

Para além destas razões, eu apontaria mais algumas, não tão nobres, mas vantagens, efectivamente:

1.  Legumes e verduras são, em geral, mais baratos do que a carne, e, se não forem consumidos, aguentam mais tempo no congelador do que carne ou peixe. Mesmo já não estando no seu melhor, podem ser consumidos apresentando menos perigo que uma carne guardada há muito tempo.
2. Esta não consigo explicar bem porquê, mas a cozinha vegetariana é mais «limpa». Tem menos gordura, logo, não cria sujidade difícil, e até os restos que vão para o lixo se degradam mais graciosamente do que a carne.
3. Para além dos legumes e verduras, a cozinha vegetariana recorre muito a sementes e frutos secos. Apesar de o investimento inicial ser alto, estes produtos rendem muito ou consomem-se em pequenas quantidades e, com alguns cuidados, aguentam-se muito tempo, fazendo que se tenha produtos mais nutritivos sempre à mão, mantendo o valor, por refeição, baixo.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Hello World


Para quem não conhece, "Hello world" é uma expressão da informática. Normalmente, o "Hello world" é a primeira coisa que se aprende a fazer quando se aprende uma linguagem de programação. É o primeiro sinal de «vida» que o programador aprende a fazer o computador dar.

Este blog é o meu "Hello world", o meu primeiro sinal de vida no mundo dos blogues.

Sobre o que é este blog? Ainda não sei, vamos ver.