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quinta-feira, 20 de junho de 2013

A prenda ideal para a namorada

Ainda me lembro de ser uma miúda e comprar tudo o que era revista de adolescente, a começar pela falecida e ressuscitada Ragazza, passando pela Bravo alemã e terminando na tuguíssima Teenager, de onde extraí um póster em tamanho real da então jovem promessa do futebol Dani, que ficou afixado na parede do meu quarto durante muito mais tempo do que tenho coragem de admitir, de modo que o dito cujo rapaz, outrora belo, já chegava a apresentar um tom amarelado, muito pouco comum num jovem daquela idade.

Estava-se a meio dos anos 90, o You oughta know da Alanis Morissete passava na rádio, a Chechénia estava em guerra e o Kim Jong-Il tinha acabado de tomar conta da Coreia do Norte, mas, para mim, tudo estava bem desde que tivesse pósters e autocolantes dos Bon Jovi e, vá lá, dos REM para decorar as paredes do quarto e os cadernos da escola.

Às vezes penso no quê que andariam os meus pais a fazer, que não repararam que, a certa altura, através da Ragazza, me chegaram às mãos dois livros dessa instituição que é a Harlequin, em particular um da série Bianca e outro da Sabrina, completamente impróprios para a minha idade.

Anos mais tarde, não sei como, chegou-me às mãos o livro de D.H. Lawrence, O amante de Lady Chatterley. Foi daqueles livros que comecei a ler e só parei no fim.

E neste momento, já estão os leitores (todos os três) a dizer: «O quê? Não vais comparar o D.H. Lawrence com os livros da Harlequin, pois não?»

E eu respondo: «Vou, sim senhor!»

A verdade é que não pude evitar, quando li O Amante de Lady Chatterley, associá-lo aos livros da Harlequin.

A diferença é que enquanto não faço a mínima ideia do que aconteceu aos livros da Harlequin, guardo religiosamente a minha cópia do Amante; enquanto não faço a mínima ideia do quê que eles falavam, do Amante, sei a história e os nomes das personagens, sei descrever os ambientes e paisagens e consigo vê-los na minha cabeça; enquanto nunca mais quis ter nada a ver com os livros da Harlequin, fui comprar e ler mais D.H. Lawrence.

Para me explicar melhor, recorrerei a uma analogia: imaginemos que havia um filme porno chamado Limpo-te os canos, imaginemos que havia outro chamado Amor nos campos verdejantes; parece-me que os títulos são elucidativos da diferença.

Para finalizar, e porquê que chamei a este post «A prenda ideal para a namorada»?
Porque, para mim, a melhor prenda para uma namorada deve vir sempre carregada de paixão, mas paixão de qualidade. E é isso que este livro é. Para mim, sem dúvida, das grandes obras da literatura, suficientemente mental, suficientemente físico e maravilhosamente escrito.
Props to you Mr. Lawrence!




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