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terça-feira, 16 de julho de 2013

O flagelo do desemprego ou porquê que o Chiado está cheio

O desemprego é um problema em portugal. Mas não é pelos motivos que estão a pensar. O desemprego é um flagelo porque as pessoas ficam sem nada para fazer. Quando ficam sem nada para fazer,  o quê que fazem? Vão às compras. O que é um problema, porque se estão desempregadas se calhar não  deviam estar a gastar dinheiro.  No entanto, se não forem às compras as pessoas ficam deprimidas, e  se ficarem deprimidas gastam dinheiro em médicos e medicamentos. Se gastam o dinheiro em médicos e medicamentos e ficam sem dinheiro para ir às compras, ficam ainda mais deprimidas e se ficam mais deprimidas gastam ainda mais dinheiro em médicos e medicamentos.  Portanto,  a vermos bem as coisas, ainda bem que o Chiado continua cheio em tempos de crise. Significa que não se gasta dinheiro em médicos e medicamentos.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

A revienga do Presidente

Não há maneira de dizer melhor, o nosso Presidente aplicou uma revienga no nosso Primeiro, aspirante a Vice-Primeiro e aspirante a aspirante a Primeiro, que os deixou com um nó nas pernas digno do mais proficiente dos marinheiros, de tal modo, que, depois disso, ninguém piou, tal foi o tamanho do anfíbio que tentava passar pelo esófago.

Quando os nossos dois Primeiros contavam com uma estratégia 1-2, ou, na pior das hipóteses, o já visto 1-1-Paulo Portas, ele vai e inventa uma coisa completamente nova que é a estratégia 1-3, deixando os jogadores e a Federação de queixo caído.

Na verdade, aquilo que se pretende é uma espécie de dream team do memorando da troika, mas eu, como boa treinadora de bancada, não posso ficar a ver sem opinar.

Na minha opinão, era aproveitar para usar as substituições e refrescar a equipa para a reta final, porque, pelos vistos, ainda temos pelo menos um ano de jogo.

Mas, como eu gosto de fazer os meus prognósticos no início do jogo, estou a ver isto a ir de uma de duas maneiras:

1 - O aspirante a aspirante a Primeiro manda-se para a piscina e grita agarrando-se ao pé, o árbitro tenta interromper o jogo, mas os responsáveis da FIFA estão de olho e ele não tem solução a não ser continuar com a equipa desfalcada, enquanto António (nome fictício) geme no chão durante os próximos 12 meses.

2 - O aspirante a aspirante a Primeiro faz descer o anfíbio com a ajuda de um pouco de pão e vinho, benze-se com a relva, dá uma palmada no traseiro dos colegas e diz «Vamos lá a isto!». Ainda sobrou um pouco de pão e vinho para ajudar a descer os outros dois anfíbios, de tamanho considerável, e a equipa ou faz um brilharete ou acaba toda expulsa por interagressão.

De qualquer modo, os portugueses continuam na retranca enquanto a sua seleção vai brincando com a bola.







quarta-feira, 10 de julho de 2013

Época alta de incêndios

Hoje está calor. Aliás, nos últimos dias tem estado muito calor. Isto não é novidade, toda a gente reparou. Se não reparou, provavelmente vive debaixo de uma pedra, sem aspas, porque deve viver literalmente debaixo de uma pedra, uma vez que deve ser dos poucos sítios onde ainda está fresco.

Há para aí uns estudos que dizem que o calor aumenta a agressividade das pessoas, e eu acredito. Aqui há uns tempos li O estrangeiro do Camus, onde a personagem principal mata um homem sob o efeito do calor intenso. Não digo que o calor me faça ter vontade de matar pessoas, mas, definitivamente, deixa-me fora de mim.

Nesta altura até tenho dificuldade em ver telejornais. Apesar de não serem propriamente catástrofes naturais, os incêndios são, para mim, a pior das consequências das condições climáticas, se bem que, em muitos casos, têm a ajuda de um dedinho muito humano.

Ao contrário dos furacões, tempestades, etc. que acabam por passar, um incêndio pode arder quase indefinidamente destruindo tudo no seu caminho: floresta, animais, casas pessoas. Felizmente, em Portugal, ainda é notícia quando um bombeiro sofre ferimentos no seu trabalho, significa que não deve ser tão frequente quanto isso.

Ninguém me perguntou, mas eu tenho que dizer. Estamos numa crise de prioridades. Como é que, a algo com um efeito tão nefasto a nível ecológico, económico e social, se pode atribuir tão poucos recursos? Como é que é possível que as pessoas que combatem os fogos tenham que o fazer mal equipados?

Quem me conhece sabe que, se há uma coisa em que acredito, é que o nível de civilização de uma sociedade se mede pela maneira como protege os mais vulneráveis: os idosos, as crianças, os deficientes. Eu incluo nesta categoria um bombeiro no momento em que luta contra um fogo, e acho que a maneira como a sociedade portuguesa tem vindo a deixar cada vez mais desprotegidos os seus cidadãos em perigo é sintomática de um decrescer do nosso nível civilizacional que tem que ser revertido, sob pena de regressarmos à Idade Média.



terça-feira, 9 de julho de 2013

Expressão idiomática do dia: meter os pés pelas mãos

Uma expressão idiomática é uma expressão que não tem significado literal, isto é, o seu significado não pode ser obtido através da soma dos significados das partes que a compõem.
Imaginemos que eu mando alguém ir «pentear macacos». Toda a gente sabe o que é «pentear», toda a gente sabe o que é «macacos», mas ninguém vai achar que eu estou a pedir ao meu interlocutor que passe um pente na melena de um primata. Se bem que isso deve ser uma coisa muito fofa de se fazer.

Qualquer bom falante do português vai perceber que eu lhe estou a dizer para ir fazer qualquer  outra coisa que não seja incomodar-me e, efetivamente, é isso que eu pretendo.

No entanto, há expressões idiomáticas cujo significado literal é uma metáfora tão boa para o seu significado idiomático, que os dois significados quase se fundem, com grande potencial para o humor.

Para mim, «meter os pés pelas mãos» é uma dessas expressões. Por exemplo, se eu disser que os nossos governantes meteram os pés pelas mãos no caso do Edward Snowden/Evo Morales, não consigo evitar vê-los a, literalmente, passarem os pés pelo meio das mãos enquanto se enrolam numa bolinha que desliza para um canto na esperança que ninguém a veja.

Dito isto, acho que as expressões idiomáticas estão subvalorizadas. São tão boas para dizer tudo em poucas palavras. E passo a exemplificar:

Um «meteu a boca no trombone» e teve que «fugir a sete pés».
Quem «atirou a primeira pedra», «sacudiu a água do capote».
Quem quis «fazer bonito», «meteu a pata na poça».
Quem foi afetado por isto «foi aos arames» e agora quem deu um «passo em falso» vai ter que «dar o corpo ao manifesto».

É o que acontece a quem «mete o nariz onde não é chamado».






segunda-feira, 8 de julho de 2013

Portugal e as festinhas na cabeça

Está na altura de dizer: Estou farta de levar festinhas na cabeça!

Não falo de festinhas literais, falo de festinhas figuradas como aquelas que nos chegam da Europa.
Não tenho filhos, mas, se tivesse, tenho a certeza que os ia tratar como a Europa nos tem tratado.

Quando nos portamos bem, passam-nos a mão na cabeça e mandam uns elogios. Quando nos portamos mal, metem-nos a um canto e mandam-nos pensar no quê que fizemos mal.

Ora, quanto a isso só tenho a dizer que Portugal e os portugueses já cá andam há muito mais tempo que a União Europeia e, bem ou mal, temos sobrevivido. Aliás, não é à toa que inventámos o conceito de «desenrascanço» e ele deve servir para qualquer coisa além de usar cintos como correias de distribuição e de fazer puxadas de corrente elétrica.

Eles já deviam ter percebido que (como alguém já disse) um país que começou com um homem a bater na mãe não se deixa ficar e, como se diz no futebol, até comemos a relva, se for preciso.

Bom, bom, seria se os nossos governantes incorporassem esse espírito, aí, sim, poder-se-ia dizer que, efetivamente, nos representam. Até lá, vai mais uma festinha na cabeça.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

E a solução é: transformar a Assembleia da República numa esplanada

Ontem, como jovem cosmopolita que sou, participei naquele ritual dos jovens cosmopolitas que consiste em, depois de um dia de trabalho, sentar numa esplanada a beber cervejas com os amigos.

Durante as aproximadamente três horas que lá estivemos, discutimos o futuro do País. Porque o jovem cosmopolita é assim como o Nuno Rogeiro, sabe comentar tudo e mais alguma coisa. Escusado será dizer que, dado o clima político no nosso retângulo de terra, grande parte da conversa foi dedicada a fazer uma análise informada e aprofundada do dito cujo imbróglio em que nos encontramos.

E a verdade é que, depois de duas horas de analogias rebuscadas, metáforas despropositadas, comparações inesperadas e jogos de provérbios, tcharam!, não chegámos a conclusão nenhuma. Ou melhor, chegámos à conclusão de que não há solução, pelo menos enquanto as ideologias precisarem de pessoas para as pôr em prática. A minha sugestão seria substituir tudo quanto é político por máquinas de calcular, mas não me pareceu que alguém acolhesse bem a ideia. Muito menos quando quis pôr o Ursinho Misha como Presidente. Ao menos é fofo.

Mas então, se não resolvemos o problema, porquê que quero transformar a Assembleia da República numa esplanada? É fácil. A esplanada é democrática. Na esplanada ouve-se e fala-se com respeito, aceita-se as opiniões dos outros de mente aberta e tenta-se extrair o melhor de cada uma. Na esplanada coopera-se e, à vez, cada um pede cervejas para todos. E o melhor de tudo: a esplanada é de acesso livre e chegue quem chegar, há sempre lugar na conversa para mais um.

Portanto: Transforme-se a Assembleia da República numa esplanada!

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Neymar e as crianças

As estatísticas são muito interessantes. E há estatísticas para tudo. Saber valores estatísticos para acontecimentos estranhos é a melhor maneira de pôr a vida em perspetiva. Por exemplo, quando fico a saber que, anualmente, morrem em média 100 pessoas asfixiadas por engasgamento com esferográficas, isto diz muito sobre a Humanidade. As estatísticas bem feitas dizem muito sobre os tempos que se vivem e elas têm que ser vistas no seu contexto. Descontextualizar é batota. Ninguém me garante que as 100 pessoas que morreram asfixiadas com esferográficas não morreram todas asfixiadas com a mesma esferográfica que era assim a versão economato do Chuckie.

 De qualquer modo, aquilo de queria falar era do Neymar e das crianças. Parece que, na Bolívia, 10 em cada duas crianças que são registadas atualmente ficam com o nome «Neymar». Também parece que, aqui há uns tempos, os nomes preferidos eram «Cristiano» e «Messi».

Cá em Portugal não se pode fazer isto. A menos que uma criança tenha um pai estrangeiro, o seu nome tem que se cingir à Lista Onomástica Portuguesa, ou então tem que se fazer um requerimento a pedir com muito jeitinho.

Acho mal. Cá em Portugal eu posso chamar Arsénio ou Hélio ao meu filho, e não lhe posso chamar Néon ou Butano. Eu queria chamar-lhe Butano. Para não ser assaltado na escola.

Para alguém que se interessa por estas coisas, isto é extremamente inconveniente. Assim como os topónimos (nomes de localidades) e gentílicos (nomes que designam pessoas de acordo com as suas localidades), alguns antropónimos (nomes de pessoas) guardam registos da História. Não vai ser bom quando, daqui a 40 anos, ninguém se lembrar do Neymar jogador, e estes Neymarzinhos, tornados Neymarzões puderem contar aos seu filhos daquele grande jogador que os batizou?



quarta-feira, 3 de julho de 2013

Juros a subirem e Evo Morales sem descer

Agora é que fizeram bonito. Como se não bastasse um governo em debandada, ainda temos a Bolívia a cair-nos em cima porque alguém assumiu (e, como diz alguém que conheço, «assumption is the mother of all fuck ups») que vinha a bordo do avião do Presidente colombiano esse grande criminoso internacional, Edward Snowden.

Cá para mim, há aqui um grande equívoco, nunca se viu um criminoso com cara de copinho de leite e que usasse óculos. Só isso devia ser suficiente para fazer o Governo Português querer pegá-lo ao colo em vez de o mandar à sua vida.

E esta observação dos óculos tem fundamentos. Os criminosos não usam óculos porque atrapalham na hora de cometer os crimes. Os óculos partem-se, caem, embaciam-se e sujam-se quando tentamos matar pessoas e fugir e assim.

O único tipo de criminoso que pode usar óculos é o chamado de «colarinho branco». Esses não precisam de se preocupar, nunca precisam de sujar as mãos e nunca se viu um que tivesse que correr, sem ser por desporto.

Ainda assim, não discordo da possibilidade de ter que rever a minha teoria. É que ela não considera esse novo crime que é falar, ou melhor, falar a verdade e, sendo assim, ponham-se a pau os copinhos de leite. É melhor tirarem os óculos, porque, provavelmente, vão ter que correr.

terça-feira, 2 de julho de 2013

O Acordo Ortográfico e a essência das coisas

A partir de hoje passo a escrever segundo o Novo Acordo Ortográfico. E porquê? Porque, ao contrário do que se diz por aí, é fácil. Não vai destruir a minha vida, não vai mudar quem sou e, principalmente, não vai fazer-me «falar como os brasileiros».

Eu percebo o apego das pessoas àquilo que consideram os símbolos do seu país, mas, sinceramente, Portugal tem uma taxa de analfabetismo superior a 5%, segundo os últimos Censos e, estar a lutar contra o Acordo Ortográfico quando meio milhão de pessoas ainda nem sabe escrever só me faz pensar em querer que toda a gente coma brioches quando a maioria ainda não tem pão. Não me interpretem mal, sou uma defensora acérrima das diferenças de opinião, acredito que é a oposição entre opiniões que faz avançar o Mundo, mas gostava que toda a gente pudesse ter as ferramentas para exprimir as suas.

Não quero defender nem atacar o Acordo, e, mesmo que quisesse, não o conseguiria fazer. A escrita, para mim, configura-se simultaneamente como o meu objeto de estudo e ferramenta, e imagino que eu olhe para a ortografia como um ginecologista olha para os genitais femininos: não há mística, é um sistema com uma função, formado por partes, pode apresentar ligeiras variações, mas de resto, é tudo muito sartriano; as coisas são o que são e por detrás delas não há nada.

O que se passa com o Acordo é que as pessoas têm tendência a romantizar. Aqui há uns tempos vi um documentário sobre a essência das coisas. Nesse documentário, um investigador tentava perceber a tendência das pessoas para atribuírem uma «essência» a objetos inanimados. Apresentava aos sujeitos uma caneta que dizia ter sido, por exemplo, do Hemingway (estou a inventar, não me recordo das pessoas que ele usou), e as pessoas pegavam-lhe, olhavam-na, mexiam-lhe. Depois apresentou uma camisola que dizia ter sido do Ted Bundy. As pessoas pagavam-lhe com a ponta dos dedos como quem mexe em alguma coisa que fede e passavam-na o mais rápido possível ao outro.

Acho que isto acontece com a ortografia, as pessoas que se sentem muito apegadas a ela não conseguem evitar sentir a sua essência, a forma como transporta a História e a aura dos grandes escritores. Não vou dizer que essa carga me é completamente indiferente, mas penso assim: quanto mais longe a forma como escrevo está de como se escreveu, mais fascinante é. Quem é que ia ler as crónicas do Fernão Lopes, se não fosse pelo vislumbre de um tempo distante?
A evolução e a mudança fazem a História. E há alguma coisa melhor do que isso?