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sexta-feira, 28 de junho de 2013

A posta de pescada ou a arte de se fingir que se sabe de tudo

Como já tinha dito, sou linguista, quer dizer, sou formada em Linguística, e, ao contrário do que muitas pessoas pensam, isso não significa que sei muitas línguas. Aquilo que sei, e o que me fascina, é a maneira como as pessoas aprendem uma língua e, principalmente, como a usam, como a modelam para servir os seus propósitos, como são ambíguas e específicas, como usam os diferentes registos, como reflete a maneira como vêem o Mundo.

Hoje venho falar sobre esse importante conceito discursivo que é a «posta de pescada» que muito me tem interessado ultimamente, não só porque elas têm andado a voar por aí, mas também porque são um óptimo exemplo dos aspectos de que falei.

Eu tenho um grande defeito, sou daquelas pessoas que quer saber sobre tudo, e depois não sabe sobre nada. Num minuto estou determinada a fazer tudo e mais alguma coisa, e no outro, já não quero saber.

Ao longo do tempo já estudei carros, aviões, futebol, computadores, electricidade, armas, filosofia, treino desportivo, história, ciência política, economia, russo, alemão, e a lista podia continuar, mas, como já disse, farto-me rápido.

E alguém diz: «Epá, impressionante.»
E eu respondo: «Neh, nem por isso.»

A única coisa para que isto serviu foi para gastar dinheiro e, para, de vez em quando, mandar umas postas de pescada que impressionam quem não me conhece. É uma arte que eu domino, mandar postas de pescada, se houvesse uma licenciatura para isso, eu já a tinha (por equivalências, claro).

Fingir que se sabe de uma coisa que não se sabe, é uma arte. Se se for ao pote com muita sede, não só corremos o risco de ser apanhados como corremos o risco de toda a gente perceber que nos estamos a armar em espertos. Debitar informação da Wikipédia toda a gente sabe, o que muita gente não domina é a arte de seleccionar a informação e de a guardar para o momento correcto.

Aqui vai então o meu

Manual rápido para fingir que se sabe de tudo, quando não se sabe de nada 

1. Recolher e seleccionar a informação

Hoje em dia temos tanta informação ao nosso dispor que se torna difícil impressionar alguém. Para o propósito, informação superficial não interessa. 

Interessam coisas do tipo:
- Jargão de comunidades mais ou menos exclusivas
- Detalhes da mecânica de vários tipos de máquinas
- Marcas e modelos de vários tipos de máquinas
- Factos insignificantes que tenham ocorrido, pelo menos, vinte anos de nascermos (guerras e acontecimentos históricos não contam, saber quando o Homem chegou à Lua não tem piada)
- Premonições (este é o melhor tipo, consiste em fazer previsões para o futuro que parecem ser baseadas num estudo extensivo das variáveis, mas que, na verdade, se leu no Guia Astrológico para 2013)

2. Apresentar essa informação

É aqui que se pode ver o nosso conhecimento linguístico e interaccional a funcionar em toda a sua grandeza.
Na análise da conversação, a maneira como a vez passa de um falante para o outro chama-se «gestão de turnos» (do inglês turn management). Quando uma pessoa está numa conversa manda ao seu interlocutor sinais de que quer a vez para falar, como, por exemplo, endireitar o tronco e chegar-se para a frente, uma respiração profunda, etc. Isto é tudo aquilo que vocês não querem, é entrar na conversa delicadamente. Se o fizerem, provavelmente as pessoas vão parar para vos ouvir falar e é quase certo que BUSTED! 
Pelo contrário, devem ser o mais abruptos possível de modo a marcarem presença, mas não captarem a atenção, entrando assim, de certo modo, no inconsciente dos vossos sujeitos.

A posta de pescada configura-se assim como espécie de «toca e foge» conversacional, uma manobra arriscada que não aconselho a tentar sem a ajuda de profissionais.










quinta-feira, 27 de junho de 2013

«Se faço greve e ninguém vê, então fiz greve?» ou o trabalho precário

Hoje estou em greve. Não, não estou, a greve é um luxo só de alguns. Não tenho contrato, não tenho horário, e trabalho num escritório escondida atrás de uma secretária. Ninguém me vê.

Pior, hoje nem os meus colegas me vêem. Não estão cá, não tinham como cá chegar. Até podia fazer greve, mas para quê? Ninguém ia saber.

E pode-se pensar: «Ooohhh, queixas-te de barriga cheia, não tens horário, chegas e sais à hora que quiseres!»

Sim, é bom, mas quem o diz claramente não pensa nas implicações disto. Não tenho contrato, logo não tenho vínculo laboral, logo, não tenho direitos. E ao contrário do que parece, continuo a ter obrigações, não tenho obrigação de chegar às 9h mas tenho obrigação de apresentar o meu trabalho feito quando mo pedem.

Trabalho, mas não tenho emprego; aprendo e evoluo, mas não tenho uma carreira; fico doente mas não tenho protecção; trabalhei no passado, trabalho no presente, mas não posso pensar no futuro.

Quem sou eu?
Sou o infame bolseiro de investigação.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

A cama da família real

Há uns tempos atrás, enquanto me preparava para o trabalho de manhã, costumava ouvir rádio. Gostava dos programas da manhã e sempre me ria um bocado.

Entretanto, descobri que a televisão também tem uns programas bons de comédia, acho que lhes chamam telejornais.

É um tipo de comédia muito especial, eu chamar-lhe-ia «comédia do imprevisto», porque, o que eles fazem é: passam uma reportagem sobre, por exemplo, o ex-consultor da CIA que anda a ser perseguido por ter vindo confirmar os maiores medos dos fãs das teorias da conspiração e que, inteligentemente, terá ido abrigar-se na Rússia (eu também o faria, não acho que alguém tenha coragem de se meter com o Putin, até porque 90 % dos filmes do Schwarzeneger se inspiraram nele. Sei de fonte segura.), e passado um bocado, pimba!, espetam com uma reportagem sobre a cama de 130 mil euros da família real com molas feitas à mão e enchimento de cabelo de cavalo.

Talvez eu esteja a ser um bocado injusta, porque, na verdade, imagine-se: vejo o telejornal, saio de casa e assim já saio com um desbloqueador de conversa preparado. Assim que alguém me mandar com a conversa do tempo, eu atiro-lhe (não literalmente, pois parece que a dita cuja é pesada) com a cama da família real, agarrando assim a oportunidade para brilhar.

De qualquer modo, molas feitas à mão e enchimento de cabelo de cavalo não é seja assim tão espectacular. Espectacular seria se as molas fossem feitas à mão por um cavalo cabeludo. Aí sim, sai da frente família real que essa cama é minha, nem que tenha que comer flocos de aveia até ao fim dos meus dias.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Atendimento ao público ou «Desculpe, não me está a ver aqui?»

Há sete anos que deixei de atender ao público, no entanto, ainda hoje guardo as importantes aprendizagens que isso me trouxe e acredito piamente que, se toda a gente estivesse pelo menos um ano atrás de um balcão, o mundo seria um lugar melhor.

Ao contrário do que diz aquela citação (que não me atrevo a atribuir a ninguém porque agora ainda aí uma grande confusão sobre quem disse o quê e isso seria tema para outro post), para mim o carácter não é aquilo que se faz quando ninguém está a olhar, para mim, aquilo que melhor revela o carácter de alguém é a maneira como interage com os desconhecidos nas situações do dia-a-dia, sendo a interacção mediada por um balcão (de qualquer tipo) o melhor exemplo.

Ser cliente, toda a gente sabe ser, mas ser bom cliente, nem por isso. Modéstia à parte, considero-me boa cliente. Já me encontrei do outro lado do balcão e falo com os outros como gostava que falassem comigo, no entanto, isso também me torna mais exigente e atenta à maneira como sou atendida e Computer says no não me satisfaz.

Não vale chutar para canto, (e aqui saco da cartola as aulas de semântica que os professores pensavam que eu não ouvia) uma conversação exige cooperação, portanto, dos dois lados do balcão há regras a seguir.

Posto isto, aqui vai o meu top dos do's and dont's do atendimento ao público (para profissionais):

1. Bom dia e um sorriso discreto na cara fica sempre bem. Os clientes não têm culpa se a Emel vos multou, o vosso patrão é um idiota ou vocês são mal pagos.

1.1 Eu sei que é difícil, mas, se os 10 clientes anteriores eram idiotas, não significa que o próximo seja. Pensem assim, num dia de trabalho surge sempre um cliente de quem se gosta, pode sempre ser o próximo. Se começarem logo mal, podem perder a oportunidade.

2. Esta é indiscutível. A menos que o vosso telefone seja uma extensão do 112, quem está à vossa frente tem sempre prioridade em relação a quem está ao telefone. Se havia uma opção de telefonar e as pessoas preferiram ir presencialmente, há que fazê-las sentir que têm alguma vantagem na deslocação.

3. A roupa que a vossa colega vai levar ao casamento da amiga é claramente uma assunto interessante e premente, no entanto, seria muito simpático interromper a conversa para olhar para o vosso cliente. Não sei, pode dar-se o caso de ele ter as sobrancelhas em fogo e era bom que vocês o pudessem avisar.

4. A vossa colega (não é a da roupa para o casamento, a outra) gosta de «fazer vento» (fazer vento significa andar ocupada em tarefas insignificantes, como mexer papéis de um lado para o outro) e o trabalho a sério fica todo para vocês. É chato, confirmo, mas os clientes não têm culpa nem têm que saber isso. A roupa suja lava-se em privado.

5. Usar o obrigada/o, se faz favor, com licença, etc., não são essenciais para a tarefa mas deixam o cliente mais bem disposto e com mais vontade de colaborar convosco.

6. Lá porque têm uma dúvida ou um problema, os vossos clientes não são burros. Se vocês sabem bem o que é um requerimento XPTO e como se faz, os clientes não têm que saber, é para isso que vocês lá estão, de outro modo podiam ser substituídos por um fax.

E o meu top dos do's and dont's do atendimento ao público (para clientes):

1. O mesmo que para os profissionais.

1.1 Quando chegam a qualquer sítio, lembrem-se que, para vocês, aquilo é uma situação única, enquanto que, para a pessoa atrás do balcão, já vieram muitos antes de vocês. Provavelmente alguns insultaram-na, à mãe, ao pai e ao cão. Dêem sempre o benefício da dúvida.

2. Tal como outros vieram antes de vós, outros virão a seguir. Aquela pessoa não está ali para discutir o sentido da vida, e o tempo dela é precioso. Sejam sucintos, claros e organizados.

3. Esta é mesmo muito importante. Estar atrás de um balcão não é sinónimo de ignorância. Pelo contrário, aprende-se muito sobre pessoas, portanto, mentir e fazer-se de desentendido é meio caminho andado para se ser apanhado e receber hostilidade de volta. A melhor maneira de se receber compreensão para um problema é explicá-lo de modo claro e, em alguns casos, um mea culpa também ajuda.

4.  Quanto tudo o resto falha, a tendência é para recorrer à agressão (não física, claro). Aviso já que não vale a pena. Na maior parte dos casos, a pessoa que vos está a atender não vos conseguia ajudar nem que disso dependesse a vida dela. É assim que as empresas grandes se protegem, colocam uma barreira tal entre quem atende o público e quem pode decidir que, na verdade, vocês estão apenas perante carne para canhão e, por muito que estrebuchem, não vão a lado nenhum. Provavelmente, a pessoa que está perante vós percebe isso muito bem, portanto, em vez de a agredirem, façam dela vosso aliado. Ela também está morta por passar o problema a outro. Perguntem-lhe que departamento ou quem podem contactar. Assegurem-lhe que não vão referir o nome dela nesse contacto e, a menos que tenham queixas dela, não o façam.

Como isto já vai longo, fico por aqui. Boas interacções.



segunda-feira, 24 de junho de 2013

A máquina de café e as redes sociais

Antes de tudo, tenho que deixar uma coisa bem clara: apesar de ser uma rapariga jovem (acabadinha de entrar nos trintas e, segundo se diz por aí, os trinta são os novos vinte), quando eu nasci, nem toda a gente tinha televisão a cores.

Tenho que admitir que tenho um smartphone, tenho uma televisão LED com uma entrada USB onde vejo filmes em  MPEG-4 e ouço músicas em MP3, e consigo construir uma frase com sentido usando muitas siglas de seguida.

Ninguém me vai apanhar a falar mal da quantidade de tecnologia que nos rodeia, embora eu goste de ser selectiva naquela que uso e como a uso.

A única coisa que eu acho que nunca devia ter sido inventada é a máquina de café expresso doméstica e vou já de seguida explicar porquê.

Para mim, tal como o vídeo matou as estrelas da rádio, a máquina de café doméstica matou as verdadeiras redes sociais.

Não me levem a mal, eu tenho conta no Facebook, no LinkedIn, e no Google+, mas isto são só emuladores das então existentes redes, que, apesar de em risco de extinção, ainda podem ser encontradas nas planícies abrasadoras do Alentejo, por exemplo.  Se não acreditam em mim, podem ir lá ver, mas não façam barulho para não perturbarem o ambiente.

Na verdade, como a maioria dos portugueses, também tenho uma máquina de café em casa que, exceptuando o cafeinómano com quem vivo, praticamente não é usada. E porquê? Fica mais barato, a qualidade do café é muito semelhante ao da rua e até tenho umas chávenas da Delta obtidas de modo menos lícito que completam a experiência.

Não uso porque também eu sou viciada, mas nas verdadeiras redes sociais. Aliás, arrisco-me a dizer que eu é que devia processar o Mark Zuckerberg, porque tenho a certeza que ele tirou a ideia do Facebook do café onde eu vou.

Senão vejamos:

- Chego ao café do costume, digo bom dia ao Sr. X (por acaso até lhe sei o nome, mas não vou dizer) - Login

- Ele pergunta-me como estou. - What's on your mind?

- Eu respondo  - Post 

- Pergunto se a minha companhia do costume já lá esteve, e ele, não só me responde, como me diz o que lhe passava pela cabeça naquele momento. - Recent Activity

- Diz também que Y perguntou por mim. - Check Inbox

- Sento-me, bebo o café que não precisei de pedir, vou observando as conversas em volta... - Live feed

- ...intervindo se justificável. - Like/comment

- Acabo o café, digo bom dia e saio - Logout.


sexta-feira, 21 de junho de 2013

Informática e Humanidades e Algoritmos para totós

Aqui há uns tempos estava num jantar com um grupo de amigos. A maior parte dos meus amigos mais recentes são de Informática ou de Humanidades, nomeadamente linguistas, por ser essa a minha formação, mas também pessoas de Línguas e Literaturas. Os informáticos vêm do meu passado de frequentadora (pouco assídua) da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e do facto de o meu namorado ser, também ele, informático.

No meio de fragmentos frásicos dispersos, ouvi alguém dizer qualquer coisa como: «É por isso que a maioria das namoradas de informáticos são de Psicologia ou de Humanidades, só elas é que os aguentam!».

Alguém disse que o maior dom é saber explicar conceitos complexos através de palavras simples, e até hoje, não sei exactamente quem lançou esta pérola de sabedoria no meio da confusão, mas é, definitivamente, um génio.

Acabei por verificar que assim é, a maioria (ou, pelo menos, muitos) dos informáticos têm namoradas da área das Humanidades. E, como boa investigadora que sou, lancei um estudo aprofundado do tema. Venho, deste modo, apresentar as minhas conclusões.

Um dos conceitos básicos da informática é o conceito de algoritmo, um algoritmo é um procedimento automático para uma determinada tarefa.

Imaginemos que tínhamos a pessoa mais idiota do planeta e queríamos que ela nos fizesse, qualquer coisa. Só porque sim, recorrerei à culinária. Imaginemos que queríamos uma gemada e não nos queríamos levantar do sofá porque estava a dar o Say Yes to the Dress e, neste mundo, não existia o restart TV nem o botão de Pause.

O único recurso ao nosso dispor é, sei lá, o namorado. Mas ele nunca fez uma gemada, e normalmente, não funciona bem deixá-lo sozinho na cozinha, portanto, vamos dar-lhe uma série de instruções a seguir, de modo a obtermos o resultado que queremos, e só aquilo que queremos, sem danos colaterais.

Escrevemos num papel:
1 - Tira um ovo do frigorífico
2 - Tira uma chávena do armário
3 - Bate com o ovo na esquina do lava-louças
4 - Deita a gema na chávena
5 - Deita o resto no lixo 
6 - Tira o acúçar branco do armário
7 - Coloca duas colheres de açúcar na mesma chávena da gema
8 - Tira uma colher da gaveta
9 - Mexe vigorosamente a gemada
10 - Pára de mexer quando ficar cremosa

Este algoritmo não está perfeito, nomeadamente, não lhe disse que a colher tinha que ser de sobremesa e não lhe expliquei o que é uma colher de sobremesa, mas, para o efeito, funciona.

À partida, seguindo este procedimento, o vosso namorado voltaria com a gemada que tanto vos apetecia, e vocês não teriam um ataque histérico quando entrassem na cozinha.

Agora, imaginem que não havia açúcar branco. De acordo com este algoritmo, vocês nunca iriam ter uma gemada e, muito possivelmente, o vosso namorado nunca voltaria da cozinha.

Como ele nunca voltava e até já tinha acabado o Say Yes to the Dress,  vocês levantavam-se e iam à cozinha para encontrar o vosso mais que tudo encolhido e a balançar-se para a frente e para trás agarrado ao papel.

O que fariam ao vê-lo naquela aflição? Eu diria: «Não faz mal, usa o açúcar castanho...»

E é isto, a minha teoria consiste apenas nisto. Os informáticos estão tão habituados a viver num mundo de algoritmos, que às vezes precisam que alguém lhes diga para usar o outro açúcar e, para isso, têm as suas raparigas das Humanidades.









 



quinta-feira, 20 de junho de 2013

A prenda ideal para a namorada

Ainda me lembro de ser uma miúda e comprar tudo o que era revista de adolescente, a começar pela falecida e ressuscitada Ragazza, passando pela Bravo alemã e terminando na tuguíssima Teenager, de onde extraí um póster em tamanho real da então jovem promessa do futebol Dani, que ficou afixado na parede do meu quarto durante muito mais tempo do que tenho coragem de admitir, de modo que o dito cujo rapaz, outrora belo, já chegava a apresentar um tom amarelado, muito pouco comum num jovem daquela idade.

Estava-se a meio dos anos 90, o You oughta know da Alanis Morissete passava na rádio, a Chechénia estava em guerra e o Kim Jong-Il tinha acabado de tomar conta da Coreia do Norte, mas, para mim, tudo estava bem desde que tivesse pósters e autocolantes dos Bon Jovi e, vá lá, dos REM para decorar as paredes do quarto e os cadernos da escola.

Às vezes penso no quê que andariam os meus pais a fazer, que não repararam que, a certa altura, através da Ragazza, me chegaram às mãos dois livros dessa instituição que é a Harlequin, em particular um da série Bianca e outro da Sabrina, completamente impróprios para a minha idade.

Anos mais tarde, não sei como, chegou-me às mãos o livro de D.H. Lawrence, O amante de Lady Chatterley. Foi daqueles livros que comecei a ler e só parei no fim.

E neste momento, já estão os leitores (todos os três) a dizer: «O quê? Não vais comparar o D.H. Lawrence com os livros da Harlequin, pois não?»

E eu respondo: «Vou, sim senhor!»

A verdade é que não pude evitar, quando li O Amante de Lady Chatterley, associá-lo aos livros da Harlequin.

A diferença é que enquanto não faço a mínima ideia do que aconteceu aos livros da Harlequin, guardo religiosamente a minha cópia do Amante; enquanto não faço a mínima ideia do quê que eles falavam, do Amante, sei a história e os nomes das personagens, sei descrever os ambientes e paisagens e consigo vê-los na minha cabeça; enquanto nunca mais quis ter nada a ver com os livros da Harlequin, fui comprar e ler mais D.H. Lawrence.

Para me explicar melhor, recorrerei a uma analogia: imaginemos que havia um filme porno chamado Limpo-te os canos, imaginemos que havia outro chamado Amor nos campos verdejantes; parece-me que os títulos são elucidativos da diferença.

Para finalizar, e porquê que chamei a este post «A prenda ideal para a namorada»?
Porque, para mim, a melhor prenda para uma namorada deve vir sempre carregada de paixão, mas paixão de qualidade. E é isso que este livro é. Para mim, sem dúvida, das grandes obras da literatura, suficientemente mental, suficientemente físico e maravilhosamente escrito.
Props to you Mr. Lawrence!




quarta-feira, 19 de junho de 2013

Vegetarianismo 2 - Vencer os argumentos contra

A primeira coisa que muitas pessoas me dizem quando digo que sou vegetariana em transição é: «Ah, gostava tanto, mas é difícil...».
Geralmente, segue-se a esta introdução a justificação de tal dificuldade. É neste momento que eu, se para aí estiver virada, vou começar a dar uma de esperta e a deitar abaixo os argumentos até que, eventualmente, o meu interlocutor me despacha com um envergonhado: «Pois...» e muda de assunto antes que eu tenha tempo de articular mais alguma coisa.

Dito isto, normalmente, esses argumentos para não se aderir ao vegetarianismo são os seguintes:

1. É difícil
2. É caro
3. Não sei por onde começar
4. O meu/minha namorado/namorada/marido/mulher não quer e depois é difícil fazer duas comidas

Começando pelo primeiro, na verdade o mais difícil de rebater, uma vez que é não é exactamente um argumento, mas mais um problema filosófico, o que faço é mergulhar no canto escuro do meu cérebro onde, surpreendentemente, pareço ter armazenado alguma da filosofia que dei no secundário e respondo aplicando na perfeição o Princípio do Terceiro Excluído, produzindo um curto «Não é nada!» E a verdade é que não é. Inclui uma mudança de hábitos e alguma organização, pelo menos, inicialmente, mas depende da maneira como se faz. Para alguns é mais fácil mergulhar de cabeça, para outros, como eu, a transição gradual é mais simples, mas do «por onde começar» falarei mais adiante.

Quanto a ser caro, efectivamente, no começo é. São necessários uma série de produtos que quem come carne ou peixe normalmente não tem na sua despensa e muitos são importados ficando à partida mais caros. Mas dou um exemplo: uma embalagem de 500 g de quinoa (must have da alimentação vegetariana) custa aproximadamente 4 euros e dá para 8 a 10 doses, ficando cada uma entre 40 a 50 cêntimos. Sim, é mais do que uma embalagem de arroz, mas muito mais nutritiva (tem o dobro das proteínas e muita fibra).

Quanto a não saber por onde começar, sim, é confuso começar, porque tal como disse, é uma mudança de hábitos, mudar hábitos gera sempre alguma ansiedade. No entanto, às vezes é bom ver a smaller picture em vez da bigger picture. Quando andava na faculdade tive uma cadeira sobre gestão e inovação. Lá fizemos estudos de casos de sucesso, de decisões de gestão que podiam fazer a diferença. Um dos que me recordo perfeitamente foi o de uma empresa de aviação que poupou milhares de dólares ao retirar uma azeitona de cada salada que servia, o que é extremamente interessante mas que eu podia saber há mais tempo se tomasse atenção ao que os meus pais me diziam. Eles sempre me ensinaram que devagar se vai longe; todas as viagens começam começam com um passo; grão a grão enche a galinha o papo, etc., etc.
Não estou a fugir do tema, para mim funcionou simplesmente começar a substituir refeições.
Procurei receitas de pequenos-almoços, encontrei um que funcionava e mantive-me com ele, variando de vez em quando. Quando já me sentia confortável, comecei a procurar receitas de refeições e ia experimentando para ver o que funcionava. E assim por diante. Até a comida vegetariana se tornar rotineira.

 Quanto à última razão. Ok, eu percebo. O meu namorado adora carne e torce o nariz à comida vegetariana, então há três maneiras de resolver:
a) enganá-lo;
b) distraí-lo;
c) fazer-lhe a vontade.

Para ser sincera, c) é mesmo a mais difícil, mas as duas primeiras funcionam bem. A) não é tão má como parece. Consiste em usar produtos que simulem a consistência da carne. Cogumelos frescos, tofu ou seitã cumprem perfeitamente o papel. B) implica jogo de cintura, mas, se em casa quem cozinha é o vegetariano, podem safar-se com esta durante muito tempo até que a outra pessoa perceba o que está a acontecer. Num dia uma sopa, noutro dia uns rolinhos de legumes com vegetais e uma salada nutritiva, e quando ele/ela der por isso, não consome carne há duas semanas. Quando nenhuma destas funcionar, aplicar C). Muitas vezes é possível criar um prato com uma base comum e fazer algumas substituições que assegurem que toda a gente fica contente.

Muito importante: Não aconselho ninguém a embarcar numa dieta totalmente vegetariana sem se aconselhar com um médico. Não sou médica, claramente, portanto abstenho-me de fazer comentários nesse domínio.



  

Vegetarianismo

No que diz respeito ao vegetarianismo, tenho que ser honesta. Não sou ainda vegetariana, mas estou a fazer os possíveis para reduzir ao máximo o consumo de carne e peixe. Eu sou assim, acho que quem se compromete demasiado com princípios, mais cedo ou mais tarde é apanhado em contradição. Antes que alguém me apanhe com as minhas botas de pele e me aponte o óbvio, prefiro avisar que estou só a tentar.

De qualquer modo, há mais de seis meses que não se cozinha carne em minha casa, e devo dizer que estou bastante contente com tal. Mexer em carne crua nunca foi a minha actividade favorita e estou feliz por já não ter que o fazer.

No meu modo de ver, existem três grandes razões para aderir ao vegetarianismo:

1. Ética (não contribuir para a criação - abstenho-me de comentar as condições em que é feita - em massa de animais para abate).
2. Saúde a) (o meu pai tem quase 60 anos, só é vegetariano há dois anos e quando faz análises obtém resultados que fariam inveja à maior parte dos rapazes na casa dos 30. E fuma.).
3. Saúde b) (com todos os escândalos associados a fraudes com produtos alimentares, e, não estando os produtos vegetarianos isentos desses problemas, é mais fácil controlar aquilo que se consome, na verdade, se me venderem um pepino e disserem que é curgete, eu vou desconfiar).

Para além destas razões, eu apontaria mais algumas, não tão nobres, mas vantagens, efectivamente:

1.  Legumes e verduras são, em geral, mais baratos do que a carne, e, se não forem consumidos, aguentam mais tempo no congelador do que carne ou peixe. Mesmo já não estando no seu melhor, podem ser consumidos apresentando menos perigo que uma carne guardada há muito tempo.
2. Esta não consigo explicar bem porquê, mas a cozinha vegetariana é mais «limpa». Tem menos gordura, logo, não cria sujidade difícil, e até os restos que vão para o lixo se degradam mais graciosamente do que a carne.
3. Para além dos legumes e verduras, a cozinha vegetariana recorre muito a sementes e frutos secos. Apesar de o investimento inicial ser alto, estes produtos rendem muito ou consomem-se em pequenas quantidades e, com alguns cuidados, aguentam-se muito tempo, fazendo que se tenha produtos mais nutritivos sempre à mão, mantendo o valor, por refeição, baixo.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Hello World


Para quem não conhece, "Hello world" é uma expressão da informática. Normalmente, o "Hello world" é a primeira coisa que se aprende a fazer quando se aprende uma linguagem de programação. É o primeiro sinal de «vida» que o programador aprende a fazer o computador dar.

Este blog é o meu "Hello world", o meu primeiro sinal de vida no mundo dos blogues.

Sobre o que é este blog? Ainda não sei, vamos ver.